O Bom Pastor.

Matteus Almeida
9 min readFeb 27, 2023

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Evangelho de João 10.1–21.

Nos tempos bíblicos, as atribuições de um pastor ao cuidar de ovelhas eram bastante diversas. Naquela época, pastores cuidavam de ovelhas tanto para o seu próprio sustento quanto para o comércio. Dessa forma, as suas responsabilidades incluíam: Guia e Liderança: O pastor guiava o rebanho para encontrar pastos e água fresca. Ele também liderava as ovelhas e protegia-as de predadores e ladrões. Alimentação: O pastor era responsável por encontrar pastos adequados para alimentar as ovelhas, muitas vezes viajando grandes distâncias para garantir que o rebanho estivesse bem alimentado. Cuidado com a saúde: O pastor inspecionava regularmente as ovelhas para identificar e tratar doenças, ferimentos ou problemas de saúde. Proteção: O pastor protegia as ovelhas de predadores, como lobos, leões e ursos, e também ladrões. Contagem do rebanho: O pastor contava o rebanho para garantir que nenhuma fosse perdida. Identificação das ovelhas: O pastor conhecia cada ovelha do rebanho pelo nome, o que permitia uma identificação rápida de qualquer ovelha perdida. Cuidado geral: O pastor se importava com o bem-estar geral do rebanho, ajudando as ovelhas a lidar com o estresse e a fadiga.

Essas atribuições de um pastor ao cuidar de ovelhas nos tempos bíblicos são frequentemente usadas como metáfora para descrever o papel dos líderes espirituais no cuidado do rebanho da igreja.

Semelhantemente ao que foi falado anteriormente (Jo 6 e 8), aqui vemos como a jornada no Deserto (Êxodo) ainda é lembrada por Jesus em seus ensinamentos. Afinal, o Êxodo é um dos momentos mais espetaculares da história do povo de Deus. A jornada de peregrinação no deserto fez com que o povo tivesse uma consciência aguçada da presença de Deus em seu meio, que a companhia de Deus era factual.

Em João 10, Jesus utiliza-se de mais uma metáfora para descrever sua identidade e missão. O pão do céu, a luz verdadeira e agora o bom pastor. Ao intitular-se o Bom Pastor o Nosso Senhor sabia muito bem o que estava tencionando fazer. Na cultura semítica, Deus foi considerado em muitas situações com a figura de um pastor amoroso que cuida do seu rebanho.

Deus é o pastor de Israel (Sl 80.1) que apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeiros e os carregará no colo (Is 40.11), que fez sair o seu povo como ovelhas e o guiou pelo deserto, como um rebanho (Sl 78.52), somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio (Sl 100.3), nós somos as suas ovelhas, ovelhas do seu pasto, nós somos o seu povo, e Ele é o nosso Deus (Ez 34.31).

DEUS COMO UM PASTOR E ISRAEL COMO REBANHO

A figura de Deus como pastor e Israel como um rebanho estava muito presente na mentalidade dos judeus. Havia então essa íntima relação entre Deus e seu povo, como um pastor e suas ovelhas.

“Dá ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes José como um rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor.” (Sl 80.1)

“Como pastor, ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os carregará no colo; as que amamentam ele guiará mansamente.” (Is 40.11)

“Ele é o nosso Deus, e nós somos povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Hoje, se ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como em Meribá, como naquele dia em Massá, no deserto, quando os pais de vocês me tentaram, pondo-me à prova, apesar de terem visto as minhas obras.” (Sl 95.7–9)

“Saibam que o Senhor é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio.” (Sl 100.3)

“Vocês são as minhas ovelhas, ovelhas do meu pasto. Vocês são o meu povo, e eu sou o seu Deus”, diz o Senhor Deus.” (Ez 34.31)

Havia então essa íntima relação entre Deus e seu povo, como um pastor e suas ovelhas.

Por outro lado, existiam também os ladrões e salteadores. Jesus afirma que o pastor, o proprietário das ovelhas entra pela porta do curral. Mas o ladrão pula.

O PASTOR CONDUZ SUAS OVELHAS

“AS OVELHAS OUVEM A SUA VOZ, ELE CHAMA AS SUAS PRÓPRIAS OVELHAS PELO NOME E AS CONDUZ PARA FORA.” (JO 10.3)

Em nosso mundo existem muitas vozes que nos chamam e nos convidam para abandonar o caminho correto, há muita mentira que parece verdade. É necessário permanecer atento com o que escutamos, pois no meio dos bons pastores, existem os maus, os ladrões e salteadores. Todavia, as ovelhas ouvem somente a voz do pastor, ele chama e elas respondem positivamente, pois são chamadas pelo nome e conduzidas para fora. É quando conhecemos alguém de fato, reconhecemos pelo tom da voz, ao aproximar-se conhecemos os passos pois são familiares.

Entretanto, existem muitas pessoas que não sabem discernir entre a voz do Senhor e a voz do ladrão. Não conseguem perceber a diferença entre o amargo e o doce, entre lei e graça, entre evangelho e heresia, entre mentira e verdade. Para estes, todas as igrejas são iguais, as pregações comunicam a mesma coisa, e tudo é verdade de Deus. Contudo, as igrejas são diferentes, nem tudo é igual. É tempo de discernir e reconhecer a voz do Bom Pastor para não sermos enganados pelos ladrões.

Em João 10, Jesus possivelmente evoca Números para exprimir a ideia de condução do rebanho para fora do aprisco: “Então Moisés disse ao Senhor : — Que o Senhor , autor e conservador de toda vida, ponha um homem sobre esta congregação que saia adiante deles, que entre adiante deles, que os faça sair e que os faça entrar, para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor. O Senhor disse a Moisés: — Chame Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e imponha as mãos sobre ele.” (Nm 27.15–18). Deus retrata a saída do Egito como um pastor que conduz o seu rebanho: “O teu povo, tu o conduziste, como rebanho, pelas mãos de Moisés e de Arão.” (Sl 77.20) “Fez sair o seu povo como ovelhas e o guiou pelo deserto, como um rebanho.” (Sl 78.52)

ATENTOS AO LADRÃO

“MAS DE MODO NENHUM SEGUIRÃO O ESTRANHO; PELO CONTRÁRIO, FUGIRÃO DELE, PORQUE NÃO CONHECEM A VOZ DOS ESTRANHOS.” (Jo 10.5)

As ovelhas ouvem a voz do pastor, pois são chamadas pelo nome e conduzidas para fora. Todas que pertencem ao Pastor saem e são conduzidas por Ele. As ovelhas seguem o pastor porque reconhecem a sua voz. Por outro lado, ao ver o estranho, não o seguirão, antes fugirão, pois a sua voz é desconhecida. É como aconselhamos às nossas crianças, devemos fugir quando estanhos aproximam-se.

As ovelhas que saem e seguem são aquelas que pertencem ao Bom Pastor. Tais ovelhas seguem e se permitem ser conduzidas e lideradas porque conhecem a voz. Não há somente o pastor desejando guiar as ovelhas, existe também o ladrão. Este, por beneficio próprio, deseja as ovelhas. Mas aquelas que pertencem ao pastor não seguirão o estranho, pelo contrário, fugirão dele.

Atualmente os ladrões e salteadores (que podem parecer verdadeiros pastores) afirmam que para ser do rebanho divino não é necessário muito extremismo e “fanatismo religioso”, é preciso abandonar o “fundamentalismo” e viver uma religião mais leve. A moralidade, a espiritualidade bíblica e convicções religiosas ortodoxas são questões ultrapassadas, em tempos hodiernos, para ser aceito pela grande massa é necessário ser “moderno”. Os ladrões não possuem a placa de perigo estampada em suas testas, por isso, estes obreiros fraudulentos desejarão nos tirar do caminho com suas vozes aveludadas, falarão o que queremos e gostamos de ouvir. Porém, estes vivem uma doutrina líquida, espiritualmente vazia, alicerçadas em valores do “politicamente correto”, pois assim são aceitos em todas as “rodas”, lotando estádios e auditórios, sendo recebidos em programas de tevê e aconselhamento as celebridades. Não nos enganemos, o genuíno evangelho não é mainstream.

Os discursos destes obreiros são escorregadios, quando confrontados com as verdades inequívocas da Escritura logo saem pela tangente, dizem: “as coisas não são bem assim (…) é preciso analisar o contexto social da época.” Quando Jesus fez milagres talvez o milagre em si foi a partilha ao invés de uma multiplicação factual ou quando Paulo censurava as práticas pecaminosas não era bem isso que ele estava fazendo, é necessário ver as entrelinhas, as variantes, os escritos da época, o que a sociedade fazia. Afinal, censuras neotestamentárias não são mais válidas para o mundo pós-moderno, é necessário adaptar. Desta forma, o texto bíblico é torcido e forçado a dizer aquilo que desejamos, tais intérpretes estão mais preocupados em ajustar o texto bíblico com suas agendas políticas, uma tragédia.

As ovelhas reconhecem a voz do pastor e não se deixarão ser guiadas por estranhos. Você tem reconhecido a voz do pastor? Onde que está o evangelho genuíno? Todas as igrejas são iguais? E as pregações, são todas iguais ? Não conseguimos ver diferença? Todos são homens de Deus? O pastor fala. Reconheçamos a sua voz.

A PORTA DAS OVELHAS

“EU SOU A PORTA. SE ALGUÉM ENTRAR POR MIM, SERÁ SALVO; ENTRARÁ, SAIRÁ E ACHARÁ PASTAGEM.” (JO 10.9)

Jesus é a porta das ovelhas, a porta da salvação. Então entremos por ela e sejamos salvos, entremos por ela e sejamos cuidados e amparados. Muitos de nós permanecemos parados, imóveis, diante da porta e não atravessamos e não entramos. Notemos que a condição para ser salvo é entrar. Não percamos tempo. Entremos e participemos sem demora do rebanho divino. Quando entramos encontramos pastagem. Não sejamos tolos em permanecer do lado de fora, pois a porta fechará.

O Bom Pastor nos concede descanso para nossas almas, perdão para os nossos pecados, nEle encontramos vida, mas vida com abundância. “Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.” (Sl 23.2–3)

Contudo, todos estes benefícios são somente para aqueles que fazem parte do rebanho divino. Para encontrar águas de descanso e repousar em pastos verdejantes e ter a alma refrigerada, é necessário ter o Senhor como Pastor. A condição é ser do rebanho. Afinal, do que adianta sabermos que Jesus é o Bom Pastor, a porta das Ovelhas, se ainda não somos do seu povo? Ele precisa ser o meu Pastor. São benefícios que adquirimos e recebemos não de ouvir falar, mas por experiência. Não descansemos tranquilo enquanto o Senhor não for o Nosso Pastor.

O Bom Pastor conhece cada uma de suas ovelhas pelo nome, sabe de suas famílias, conhece as suas necessidades e privações, sabe onde dói e onde precisa de melhora. Não sejamos tolos em permanecer do lado de fora, pois a porta fechará. Não nos enganemos o Bom Pastor conhece a nossa vida e por incrível que pareça Ele não nos abandona, não nos deixa de lado. Ele conhece o mais íntimo de nosso ser e ainda assim escolhe nos amar. O Bom Pastor está disposto a deixar as noventa e nove das ovelhas para sair em busca de uma única perdida, ainda que estejamos nos lugares mais sombrios e solitários, nos poços mais profundos e sujos, o Bom Pastor vai nos buscar de volta. Afinal, nenhuma das suas ovelhas será perdida. De todas aquelas recebidas do Pai, nenhuma se perderá. Por isso, “hoje, se ouvirem a sua voz, não endureçam o coração.” (Sl 95.7)

O BOM PASTOR

“EU SOU O BOM PASTOR. O BOM PASTOR DÁ A VIDA PELAS OVELHAS.” (Jo 10.11)

A entrega sacrificial do Bom Pastor é o diferencial diante do mercenário. Jesus faz um contraste do seu ministério com a atuação dos pastores infiéis. Enquanto que o pastor genuíno coloca sua vida em risco para proteger e cuidar do seu rebanho, os falsos pastores apenas usufruem sem responsabilidade de suas ovelhas.

— Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! — diz o Senhor. Portanto, assim diz o Senhor , o Deus de Israel, a respeito dos pastores que apascentam o meu povo: “Vocês dispersaram as minhas ovelhas e as afugentaram, e não cuidaram delas. Mas eu tratarei de castigar vocês por causa das maldades que praticaram, diz o Senhor. Eu mesmo recolherei o remanescente das minhas ovelhas, de todas as terras para onde as tiver dispersado, e as farei voltar aos seus apriscos; serão fecundas e se multiplicarão. Porei sobre elas pastores que as apascentem, e elas jamais terão medo, nem ficarão assustadas; nem uma delas faltará, diz o Senhor .” (Jr 23.1–4) “Darei a vocês pastores segundo o meu coração, que os apascentem com conhecimento e com inteligência.” (Jr 3.15) A advertência aos falsos pastores também ecoa em Ezequiel 34.

Jesus afirma que o Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas. Notemos que foi este o ofício realizado anteriormente por Davi (1 Sm 17.34–37), preanunciando o auto sacrifício messiânico (Is 53.12). A morte do Pastor é lamentada e produz mudanças (Zc 12.10; Mc 14.27; Jo 19.37). O Bom pastor nos conduz do deserto deste mundo até a santa cidade, Ele é o nosso guia em toda a nossa jornada espiritual. Ele dá a sua vida por suas ovelhas, esse é o verdadeiro amor (Jo 15.13).

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Matteus Almeida

Missionário no Sertão Cearense. Uso o Medium para salvar os meus sermões e reflexões.